A história que circulou em vários meios informais de comunicação começava com fatos reais. Valentin Tramontina foi um entre milhares de imigrantes europeus – e, nesse caso, italianos – que desembarcou no Brasil no século XIX, principalmente na região sul do nosso país. Mas é depois de sua chegada que as coisas começam a acontecer.

Sem emprego, analfabeto e precisando de dinheiro para se sustentar, Valentin Tramontina pedia serviços de porta em porta. Como não tinha nenhuma experiência, diz-se que a única ocupação disponível para ele era ser o porteiro do prostíbulo da pequena cidade, que viria a ser chamada posteriormente de Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul.

E por lá ele ficou por muito tempo. Apesar de não ser o emprego dos seus sonhos e não ser o que ele imaginou quando saiu de seu país natal, aquela ocupação era tudo o que Valentin tinha a sua disposição. No entanto, ele ainda não sabia o que o futuro tinha reserva: muitas reviravoltas.

Um novo prostíbulo havia aberto na pequena cidade, e a concorrência começou a ser um problema para o patrão de Valentin Tramontina. Visando melhorar os seus negócios e ganhar de novo o monopólio daquele ramo, o empresário decidiu por melhorar os seus serviços e gerenciar melhor o seu caixa.

Para isso, em uma reunião com os seus colaboradores, um dos pedidos do chefe foi que Valentin anotasse, em papel e tinta, todos os visitantes que entrassem e saíssem do lugar. Surpreendido, Tramontina disse que, apesar de querer, não poderia desempenhar aquela atividade, uma vez que não sabia ler nem escrever.

Apesar de gostar dos serviços do seu porteiro, o dono do prostíbulo se viu obrigado a demitir o imigrante italiano, que nunca havia feito outra coisa em sua vida. Como gratidão por todos os anos de seus serviços prestados, Valentin ganhou uma quantia de indenização por ter sido demitido e conseguir viver por algum tempo, ao menos até arrumar uma nova ocupação.

Sem saber o que fazer com o dinheiro, Tramontina se lembrou que sempre arrumava as cadeiras e mesas que estragavam no prostíbulo, e que era uma coisa que poderia fazer pela cidade: arrumar as coisas que estragavam. No entanto, ele não possuía ferramentas, e a loja mais próxima ficava a um dia de viagem.

Como possuía tempo sobrando, já que estava desempregado, arrumou suprimentos para a viagem e partiu para a outra cidade, comprando assim uma nova caixa de ferramentas completas. Gastou grande parte do seu dinheiro na compra e na viagem, sobrando uma parte para viver algumas semanas.

Ao voltar no outro dia, entretanto, Valentin continuava sem arrumar serviços, nem na ocupação que pensara anteriormente. Naquela mesma tarde, um vizinho bateria a sua porta e, sabendo que ele havia viajado para comprar as ferramentas, pediu o martelo emprestado, dizendo que o devolveria pela manhã do outro dia.

Dito e feito, o vizinho bateu novamente à porta no outro dia. No entanto, não era para devolver o martelo e sim para oferecer dinheiro pela ferramenta, já que precisava para o seu trabalho e a loja mais próxima ficava a um dia de viagem. Como o seu dinheiro não era muito, Tramontina ficou tentado a aceitar, mas aquela ferramenta poderia ser seu único “ganha pão” em longo prazo.

Observando que o imigrante não poderia vender a sua ferramenta, o vizinho ofereceu uma boa quantia, dizendo que pagaria a sua viagem de ida e volta para a loja de ferramentas mais próxima, mais o valor do martelo, para que ele pudesse comprar um para você.

Um amigo do vizinho ficou sabendo desse acontecimento, e pagou o homem para fazer outra viagem. Tramontina viu uma oportunidade naquilo e apesar de o resto do seu dinheiro ser para comer, se arriscou e comprou mais ferramentas do que haviam sido encomendadas.

E deu certo. Ele começou a vender ferramentas para várias outras pessoas da cidade, as quais não tinham o tempo disponível para ir a outra cidade, devido a rotina apertada do dia a dia. Como se tornou um cliente confiável, as fornecedoras começaram a enviar os seus empregados para entregar ferramentas para Valentim revender, o que se tornariam um ótimo negócio.

Em pouco tempo, o simples homem se tornou um grande empresário da cidade. Depois de alguns meses, eram pessoas de outras cidades que viriam até ele compras as ferramentas.

Sabendo que poderia ganhar ainda mais com a sua empresa, ele se lembrou nesse momento de um amigo ferreiro e imaginou que, como tinha o investimento, seu amigo poderia confeccionar as ferramentas. Além disso, depois de tanto tempo comercializando os itens, Valentim também sabiam como eram e como funcionavam.

Dessa forma, agora Tramontina fabricava as suas próprias ferramentas e já tinha vários funcionários em sua empresa, entre vendedores e ferreiros para produzir. O empresário começou a lucrar muito com o seu negócio, se tornando assim um dos homens mais prósperos financeiramente daquela região.

Passou também a produzir outros produtos derivados de metais, como facas, colheres e garfos. Sua empresa não se limitava somente a um artigo, mas tentava sempre inovar e trazer novas tecnologias para a cidade.

Passado algum tempo, em gratidão àquela cidade, Valentim Tramontina resolver reformar e fazer melhoras na escola.

O seu objetivo era que nenhuma criança precisaria passar pelo que ele passou, simplesmente por não ter tido a oportunidade de aprender a ler e escrever.

No dia da inauguração, o prefeito da cidade o agradeceu e pediu para que ele assinasse um dos livros da escola, para que se lembrassem daquela situação.

No entanto, como já sabemos, Valentim era analfabeto e disse que não poderia fazer aquilo. Surpreendido, o prefeito perguntou ao empresário como ele, sem saber ler nem escrever, conseguiu montar um império de produção de ferramentas e outros artigos.

Como sempre bem humorado, respondeu de forma irônica: se soubesse ler e escrever desde a sua infância, provavelmente ainda seria o porteiro do prostíbulo.

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